por Clara Corrêa 3y3f4r

Nos últimos anos, a proliferação de casas de apostas, especialmente online, escancarou uma
forma de compulsão que atinge brasileiros de diferentes perfis. Uma pesquisa do Instituto
DataSenado aponta que cerca de 22 milhões de pessoas, apostaram nos últimos 30 dias.
Destas, 52% recebem até dois salários mínimos mensais. Outro levantamento, feito pela
MrJack.bet, revela que 31% dos apostadores ganham menos de R$ 1.000/mês, ou seja,
abaixo do mínimo.

Não se trata apenas de “gostar de apostar”, mas de uma repetição sem fim: aposta após
aposta, mesmo diante de prejuízos significativos, em busca de algo que nunca se realiza
plenamente.

Do ponto de vista da psicanálise, esse comportamento repetitivo costuma aparecer como uma
tentativa de lidar com um vazio interno, uma angústia que o sujeito muitas vezes nem
consegue nomear. Apostar pode funcionar como uma forma de aliviar esse mal-estar, mesmo
que seja por pouco tempo. Mas, na verdade, o alívio logo a, e o ciclo recomeça: a pessoa
aposta de novo, não tanto pelo dinheiro em si, mas pela sensação momentânea que a aposta
traz. É um movimento que mistura prazer e sofrimento, e que, muitas vezes, vai se tornando
difícil de interromper.

Freud já nos ensinava que sintomas não são escolhas aleatórias; são formações do
inconsciente. Assim, apostar sucessivamente, mesmo sacrificando finanças, relações e
bem-estar emocional, é uma forma de falar sem palavras o que precisa ser escutado.

Na clínica psicanalítica, o fim do ciclo não a por técnicas de controle de impulso, mas pela
escuta do sujeito. Usar o divã para explorar a relação com o risco, o valor do dinheiro, as
perdas vividas e as pequenas ilusões que sustentam a aposta é permitir que a repetição foque
em algo que reverta sofrimento em reflexão.

O vício em apostas revela uma interseção entre vulnerabilidade econômica e um chamado do
inconsciente que merece atenção. É esse chamado que a psicanálise acolhe, escuta e elabora.
Se você está ando por isso, ou conhece alguém que precisa de ajuda, entra em contato!

@claracorrea.psi